A alimentação influencia o desempenho escolar
Pesquisa aponta melhora na capacidade de memorização após a ingestão de glicose
por Sidarta Ribeiro, Andrea Delandes e Valter Fernandes
Não é surpresa para ninguém que é difícil aprender de barriga vazia. Até por experiência própria, a maioria das pessoas concorda com o papel preponderante da alimentação no desempenho escolar. Há algumas décadas, luta-se no Brasil para que as escolas assumam o papel de alimentar adequadamente seus alunos antes e depois das aulas. Não apenas do prisma social, mas também do ponto de vista neurocientífico essa preocupação é justificável. Cerca de 60% de toda a glicose consumida pelo corpo destina-se ao cérebro. Recentemente, testando substâncias capazes de aumentar o aprendizado, o pesquisador americano Paul Gold verificou que uma das mais eficazes é justamente a glicose.
Num experimento realizado com universitários, Gold observou aumento de cerca de 30% na capacidade de memorizar trechos lidos após a ingestão de glicose, em comparação com o desempenho após o uso de uma substância controle, o adoçante sacarina. Os resultados sugerem que os efeitos positivos da glicose não se devem simplesmente ao seu sabor doce, mas à ingestão de mais calorias.
Engana-se, entretanto, quem acredita que o mero aumento da ingestão calórica baste para a obtenção de ganhos cognitivos. O pesquisador espanhol Ismael Valladolid-Acebes e seus colaboradores estudaram o efeito da alimentação gordurosa no aprendizado espacial de ratos. Animais alimentados com dieta pobre em gorduras levaram quatro sessões de treinamento diário para atingir um desempenho considerado ótimo na tarefa. Já os ratos que receberam alimentos ricos em gorduras tiveram aprendizado bem lento, atingindo após oito sessões diárias um desempenho quase três vezes pior do que os do primeiro grupo. Como tem insistido a primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, a má qualidade do lanche escolar naquele país, com excesso de gorduras e carboidratos, talvez seja parcialmente responsável pelo desempenho medíocre dos alunos em testes de desempenho escolar, em comparação com outros países desenvolvidos.
Diversos estudos indicam que a “otimização cognitiva” da dieta vai muito além do mero valor calórico das refeições. O zinco, as moléculas como a colina, as vitaminas do complexo B e a vitamina A são necessários ao desenvolvimento da capacidade de aprender. É preciso realizar pesquisas empíricas em sala de aula para quantificar o impacto cognitivo da ingestão calórica, composição da refeição, papel dos micronutrientes e hidratação, bem como os efeitos do tamanho da porção, da frequência de alimentação e de seu efeito recompensador.
Fonte: Revista MenteCérebro de março 2015