O tic-tac que nos devora
Devido à necessidade de programar o plantio e a colheita, os seres humanos, bem antes de inventarem a escrita, precisaram criar instrumentos para localizar as estações. Fizeram isso observando os elementos da natureza, o sol, a lua, as marés, e assim começaram a criar uma cronologia. Surgia o protótipo do que viria ser mais tarde os medidores de tempo.
Nesse início, os medidores utilizados eram sempre os elementos da natureza: relógios de sol, velas graduadas que ao se queimarem indicavam a passagem de um período, as clepsidras – movidas à água - e as ampulhetas, que muitos associam aos antigos alquimistas. Com o desenvolvimento da nossa espécie, localizar as estações do ano já não era mais suficiente, surgiu a necessidade de fatiar o dia em horas, com base nas observações astronômicas e da natureza criaram-se as unidades de tempo.
Isso levou ao desenvolvimento de medidores de tempo cada vez mais precisos e complexos, pavimentando o caminho para os relógios e cronômetros que agora povoam nosso mundo. Os primeiros relógios mecânicos com engrenagens surgiram no século XIV. Credita-se ao brasileiro Santos Dumont a invenção do primeiro relógio de pulso. Atualmente a referência é o relógio atômico.
O tempo passou a representar muito mais que as horas, minutos e segundos marcados pelos relógios. Ele tornou-se um conceito complexo, abrangendo as dimensões quantitativa e qualitativa. Por exemplo, podemos indicar e localizar as mudanças e o desenrolar da história ou viajar no tempo por meio da memória, revivendo momentos felizes ou dolorosos.
No entanto, não podemos nos esquecer que o conceito de tempo como o entendemos e medimos é uma convenção humana, resultado da nossa necessidade de organizar e mensurar eventos e processos em sequências, e que nos ajuda a orientar nossa experiência e o mundo ao nosso redor.
A velocidade que a vida moderna exige nos desafia a equilibrar inúmeras demandas: trabalho, família, amigos, lazer e desenvolvimento pessoal entre outras. Nesse redemoinho de atividades, muitas vezes esquecemos de valorizar o que é realmente importante. O tempo se transformou em um recurso precioso e escasso. Diferentemente de outros bens, não conseguimos estocá-lo ou negociá-lo. Sua gestão cabe a cada um de nós, sendo uma tarefa que exige a capacidade de reflexão e priorização.
A questão que merece reflexão é: estamos dando a devida importância ao que realmente importa em nossas vidas? Em nossa ânsia de cumprir prazos e metas, não estamos negligenciando o verdadeiro sentido da existência?
Em tempo, não ao acaso, na estória de Peter Pan - o menino que se recusa a crescer -, há um crocodilo, ele leva na barriga o relógio do capitão Gancho que não para de repetir o inconfundível e ensurdecedor “tic-tac”, “tic-tac”. É o crocodilo Tic-Tac. Coincidencia ou não, na mitologia grega, o deus do tempo Cronos devorava os próprios filhos...
out.23