Com a vida em modo piloto automático

 

Mergulhados no ritmo acelerado da vida que muitas vezes nos arrasta como folhas ao vento, é muito fácil cair na armadilha do piloto automático. Neste estado as tarefas diárias transformam-se em roteiros repetitivos, e nossas ações parecem seguir um script previsível, como se estivéssemos programados a realizar cada passo sem realmente sabermos o porquê.

É como se estivéssemos num voo interminável em uma aeronave chamada rotina, sempre com o piloto automático ativado. Levantamos voo pela manhã, sobrevoamos por reuniões e compromissos, atravessamos nuvens de responsabilidades, para aterrissar apenas à noite, exaustos, sem sequer lembrar do trajeto que percorremos.

O despertador, como um fiscal, nos aciona para o início de mais um dia. A escova de dentes desliza automaticamente em nossa boca, o café desce goela abaixo sem que realmente sintamos seu sabor. Em nossas mentes, estamos em algum lugar entre o passado e o futuro, enquanto nossos corpos executam uma coreografia muito bem decorada.

As conversas cotidianas tornam-se monólogos ensaiados. Cumprimentamos colegas de trabalho automaticamente com um sorriso, respondemos a perguntas de forma programada. O olhar no espelho revela não um rosto, mas uma máscara que usamos para nos adequar à narrativa que a sociedade espera de nós.

Convenhamos que o piloto automático é sedutor em sua simplicidade. Ele garante eficiência, economia de tempo, mas, ao mesmo tempo, nos rouba a vivacidade da experiência. É como viver numa tela de cinema, assistindo a nossa própria vida sem realmente participar da trama. Estar de corpo presente.

No entanto, há momentos em que a monotonia é interrompida e somos bruscamente ejetados do piloto automático. Um raio de sol que atravessa a cortina ou uma chuva inesperada nos faz lembrar da beleza lá fora, ou mesmo um encontro casual podem nos fazer perceber que a vida é mais do que a rotina previsível que criamos para nós mesmos.

Recobrar esta consciência e desligar o piloto automático exige coragem, pois seria desviar da rota predefinida, para questionar o porquê de cada ação, para redescobrir o sabor do café e as imagens do caminho que escolhemos percorrer. É ao romper o automatismo que encontramos a verdadeira essência da vida, onde cada momento é uma oportunidade para viver plenamente, ao invés de apenas existir.

Desativemos o piloto automático e assumamos o controle, porque a vida é para ser vivida de forma vibrante, não em tons previsíveis de cinza.

dez.23 

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