Os Riscos das Bonecas Reborn para a Saúde Mental e Emocional: Entre a Terapia e a Desconexão com a Realidade
A recente viralização de vídeos nos quais mulheres levam bonecas reborn — réplicas hiper-realistas de bebês — a hospitais, simulando sintomas como febre, expõe uma complexa intersecção entre busca por conforto emocional e riscos psicológicos. Em Minas Gerais, uma jovem de 17 anos gravou-se em um hospital alegando que seu "bebê" estava doente, gerando críticas e até um projeto de lei para multar quem utilizar serviços públicos para atender objetos inanimados. Esses episódios revelam como o apego excessivo a essas bonecas pode desencadear comportamentos que desafiam a fronteira entre a fantasia e a realidade, colocando em questão seu impacto na saúde mental.
Especialistas alertam que, embora as bonecas reborn possam ser ferramentas terapêuticas para lidar com luto, ansiedade ou solidão, seu uso inadequado pode perpetuar processos de negação e impedir a resolução de traumas. Psicólogos ressaltam que a dependência excessiva desses objetos pode estagnar o luto, mantendo o indivíduo preso em uma "simulação" que adia a aceitação da perda. No caso de mulheres que perderam filhos, por exemplo, a boneca pode oferecer alívio temporário, mas também reforçar a incapacidade de elaborar a dor de forma saudável, especialmente se houver recorrência em substituir interações humanas por cuidado com o objeto.
É importante destacar que, em contextos terapêuticos supervisionados, as bonecas reborn têm benefícios comprovados, como no auxílio a idosos com demência ou a mães enlutadas. Estudos citados por profissionais vinculados a programas como o Reborns With Reasons mostram que a terapia com bonecas reduz agitação e promove conexões emocionais em pacientes com Alzheimer, por exemplo. No entanto, quando utilizadas sem orientação profissional, elas podem alimentar fantasias patológicas, como a crença de que o objeto possui vida própria, ou servir como válvula de escape para evitar enfrentar realidades dolorosas, como infertilidade ou solidão.
Em síntese, as bonecas reborn representam um paradoxo: são aliadas potenciais no manejo de traumas, mas seu mau uso pode aprofundar vulnerabilidades emocionais. Casos como os relatados em Minas Gerais ilustram a linha tênue entre o coping saudável e a desconexão da realidade. Para mitigar riscos, é essencial que seu emprego seja acompanhado por profissionais de saúde mental, garantindo que a fantasia não substitua a elaboração genuína das emoções. Enquanto a sociedade debate a regulamentação dessas práticas, a empatia e o entendimento sobre as motivações por trás do apego a esses objetos devem guiar tanto as políticas públicas quanto as interações sociais.
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